sexta-feira, 29 de maio de 2015

3. Inconveniência – Não Existem Poesias




1º e 2 de maio de 2015

Parecia até cômico que Demi, uma pessoa tão extrovertida, pudesse ter os mesmos medos que Joseph, seu oposto. No fundo Joseph achava aqui tudo louco, como que seria isso possível? Mas isso também o acalmava, talvez, no fim das contas, ele não fosse tão estranho assim.
Os dois já estavam conversando há quase uma hora, quer dizer, Demi falava e Joseph escutava, e nesse meio tempo Demetria havia confessado que ficara indecisa sobre vir conversar com Joseph ou não, pois temia que ele estivesse chateado com ela, enquanto que Joe remoía-se, achando que a culpa de tudo era ele. Como se pode ver, cômico.

_ Sua mãe cozinha muito bem. – disse Joseph, enfiando mais um pedaço inteiro da torta de frango na boca, ele havia passado grande parte do dia preparando as provas e organizando o cronograma das aulas que nem mesmo percebera que estava com tanta fome, no começo ele até pensou que a fome fosse a razão de ele ter achado a torta tão boa, mas agora, após ambos terem terminado, em questão de poucos minutos, uma travessa inteira, e mesmo após cheio ele ter encarado mais um pedaço final só significava uma coisa, aquela torta de frango estava realmente boa.
_ Muito mesmo. – respondeu nostálgica, lembrando-se de sempre ver a mãe cozinhar tudo com tanto capricho e gosto. _ pena que eu não puxei nenhum pouco desse talento.
_ Nada, nada? – perguntou Joe, desconfiado de que era apenas charme da garota.
_ Eu corto uma salada como ninguém. – disse, fazendo Joseph rir.
_ Nem miojo? – insistiu. Se até ele podia fazer milagres com um pacote do macarrão instantâneo.
_ A primeira vez que eu fiz miojo eu queimei a panela. – confessou. Joe riu.
_ Meu Deus, você é realmente uma negação.
_ A segunda vez foi bem melhor. – defendeu-se.
_ Você é persistente então.
_ Não te provei isso naquele elevador? – lembrou-o.
_ Eu ainda não acredito que eles fizeram isso com você. – lamentou Joe.
_ Eu vim para cá já preparada para isso. Doeu, mas era possível. Não irei desistir só por isso.
_ Fico feliz que esteja disposta a lutar por seus sonhos.
_ E você por acaso não lutaria pelos seus? – questionou.
_ Acho que meus sonhos não exigem tanto assim de mim. – respondeu. Demi ajeitou-se no sofá de Joe, era estranho, ele a intrigava muito, mas a razão para isso é que ele não é intrigante, a vida de Joseph não tem surpresas ou mistérios, você provavelmente poderia resumi-la inteira fazendo poucas perguntas. Isso, para Demi, não parecia real, deveria ter algo a mais, ninguém poderia viver assim, sempre na mesmice.
_ Me diga algo legal sobre você. – pediu Demi, começando sua jornada em busca de algo, se ele estivesse escondendo alguma coisa, ali era descobriria.
_ Algo sobre mim? – pareceu extremamente surpreso. _ Como assim algo sobre mim?
_ É. Algo interessante, um momento legal em sua vida.
_ Minha formatura. – disse Joe indeciso quase que sem pensar.
_ Ok, e o que aconteceu em sua formatura? – perguntou curiosa por saber mais. Muitas coisas podem acontecer em uma formatura. Romances, brigas... As possibilidades são muitas.
_ Eu me formei. – respondeu obvio, mas assim que viu a decepção nos olhos de Demi, percebeu o que ela queria dele. Ah que ótimo Joseph, você é oficialmente o cara mais chato do mundo.
_ Tudo bem. – se recompões para recomeçar. _ Me fale sobre seu primeiro amor. – foi mais obvia, todo mundo sempre tem uma história sobre um primeiro amor.
Joseph sentiu um nó na garganta. Seu primeiro amor? Bom, seu primeiro amor?... Ah que grande merda, que primeiro amor?
_ É. – tentou criar algo em sua cabeça, pena que a escritora era ela, se ele tivesse esse dom poderia criar uma linda história, com um inicio provável, um meio louvável, e um fim agradável. _ É. Foi, foi bom.
_ Bom? – perguntou nada convencida. _ Sua primeira vez? – foi mais fundo.
_ Bom também. – respondeu gaguejando. Ele nem mesmo conseguia olha-la nos olhos mais.
_ Você é virgem? – perguntou sem crer.
_ Você não é? – perguntou após alguns segundos de hesitação. Só naquele momento, após tanta insistência, Demi percebeu que em sua ânsia de descobrir mais sobre o rapaz, acabou não só o assustando, como também o deixando bem desconfortável.
_ Oh, eu acho bem legal esperar pela pessoa certa. – tentou concertar-se. Mas ela não percebia que esse era o problema de Joseph. Não era questão de esperar ou não, a coisa era bem mais simples, nunca havia existido uma pessoa, nem a certa nem a errada.
_ É. – confirmou Joseph, era melhor concordar do que assusta-la mais ainda com sua esquisitice, pensou ele.
Demi não se atreveu falar mais nada, sabia que tinha ido longe demais e agora não sabia como voltar atrás sem acabar piorando tudo, talvez fosse melhor ela ir embora, voltar para sua casa, amanhã ela esquentaria mais uma marmita feita pela sua mãe, novamente ela bateria na porta de Joseph e pediria desculpas, como um déjà vu.
_ Eu posso tentar te ensinar algo. – disse Joe, após um breve silêncio. _ Para quanto a comida que sua mãe te mandou acabar você não vai depender de fast-food. – ótima saída Joe, pensou ela. A mudança de assunto lhe caiu como uma luva.
_ Você vai ter que ter muita paciência.
_ Eu sou professor, dependo da minha paciência. – falou.
_ Acho que não tenho muita escolha. Pelo jeito que as coisas estão, vou ficar aqui por um bom tempo.
_ Que bom. – disse quase que de imediato.
_ É. Acho que é bom mesmo. – sorriu.

(...)

Aquela noite não sairia da cabeça de Joseph, pela primeira vez eles tinham se despedido sem ter nada para o que se torturar durante a noite. Apenas uma boa promessa, amanhã, sábado, dia da folga de Joe, eles novamente se encontrariam, e ele a ensinaria a cozinhar, ou pelo menos tentaria.
Demi também não poderia estar mais feliz, até que fim ela tinha acertado com o vizinho, tudo bem que tinha cometido uma pequena garfe no meio do caminho, mas no fim das contas eles passaram por cima do incidente e tudo terminou bem.
Ela tinha que ligar para a amiga, Camilla saberia de tudo.


O dia amanheceu e Joe acordou cedo o suficiente para ver os primeiros raios do sol. Não havia necessidade para acordar tão cedo, hoje ele não precisava ir a escola, hoje era seu dia livre, ele poderia dormir até o horário que bem entendesse, mas era obvio que ele não conseguiria. Algo hoje o despertara mais cedo que o necessário, e não foi preciso muito esforço para descobrir o que era. Seu primeiro pensamento do dia foi ela, Demetria, e a aula que culinária que ele a daria hoje, meu Deus, o que ele a ensinaria? Era como se toda sua experiência em sala de aula tivesse desaparecido em questão de uma noite. Mas agora era tarde, Joe já tinha prometido a ela, e em questão de algumas horas eles se encontrariam novamente, só de pensar Joe sentiu o estomago revirar.



A campainha tocou e Demi já sabia quem era. Camilla não escondera seu entusiasmo em relação a Demi e seu vizinho, Joe. Demi achou exagero, ambos não tinham nada em comum, mas estava claro que a amiga via algo a mais que Demi não era capaz de ver.  

_ Você? Na cozinha? – perguntou chocada. _ Ele realmente não sabe o risco que está correndo.
_ Para, eu não sou tão má assim. – reclamou Demi.
_ Demi? Má? Você é péssima! – contrapôs. _ Me diga algo que você fez na cozinha e que tenha ficado bom.
_ Eu já fiz uma omelete que até mesmo meu pai elogiou. – disse orgulhosa. Camilla olhou-a desconfiada. _ Você pode ir parando com isso tá, sua chata? Você não é nenhuma chef de cozinha.
_ Seu bolo de caixinha não cresceu.
_ Aquele bolo deveria estar vencido. – defendeu-se.
_ Não estava.
_ Estava sim. – insistiu. _ E sabe, eu melhorei muito desde que você foi embora.
_ Sei, parece que dona Diana não percebeu isso. – relembrou-a do monte de comida congelada que a mãe de Demi tinha feito para a filha trazer.
_ Eu vou te jogar pela janela. – ameaçou brincando.
_ Você pode até cozinhar muito mal, mas você é uma ótima amiga. – falou Camilla. _ Agora, sobre esse Joseph, realmente não tem nenhuma chance? – perguntou.
_ Claro que não. – respondeu Demi.
_ Nem uma ficada? – perguntou sugestiva.
_ Ah, sobre isso, sem duvidas, não.
_ Explique-se.
_ Ele não é esse tipo de homem.
_ Não é esse tipo de homem? Como assim não. Aí, ele é realmente gay? – perguntou. _ Pelo que você falou dele, era quase que óbvio.
_ Antes fosse isso. – suspirou. _ Eu sempre quis um amigo gay, eles são mais divertidos.
_ Obrigada pela parte que me toca.
_ Você também é divertida. – concertou-se. _ Só que, eles são divertidos de uma maneira diferente.
_ Tá, tudo bem, eu entendi, mas como assim, antes fosse isso?
_ É que... – Demi debatia mentalmente se era correto dizer a amiga sobre Joe ser virgem. Camilla é amiga e ela sabe que pode confiar nela, o problema mesmo era a boca de Camilla, e nisso Demi não poderia por a mão no fogo.
_ Fala logo, garota, você sabe que se eu quiser eu descubro. – disse.
_ Ele meio que nunca teve alguém.
_ Como assim? Nunca namorou?
_ Mais o menos assim. – Camilla fez uma cara de confusa. _ É, ele nunca namorou. Nunca mesmo.
_ Eu espero estar entendendo errado, porque se não, você simplesmente conheceu o cara mais estranho da face da terra.
_ Ele é uma boa pessoa, só não é sociável, talvez eu possa mudar isso.
_ Demi. – aproximou-se de sua amiga, demostrando a sua preocupação. _ ele pode nunca ter tocado na mão de uma mulher que não fosse sua própria mãe.
_ Camilla. – Demi gargalhou. _ Você deveria conhecê-lo, você ia ver como ele não é um esquisitão. Só um... Um pouco esquisito, mas um tipo de esquisito legal. – Camilla riu da amiga.
_ Nenhuma chance, é?
_ Nenhuma. – reafirmou Demi. _ Só amizade viu?
_ Aham. Sabe de uma coisa? Vou querer conhecer esse cara, e vai ser hoje.
Agora sim Joseph deveria temer.


Onze da manhã em ponto, parece até que ele tinha cronometrado, e talvez até mesmo tenha, já que Joe passou o dia organizando tudo para que na hora certa, tudo estivesse certo.
Demi abriu a porta, tentando não se mostrar nervosa, ela sabia que um encontro entre a amiga e Joseph, agora, poderia ser uma péssima ideia, se Demi já era um susto na vida dele, imagine Camilla? Logo ela percebeu as sacolas nas mãos do rapaz.
_Oi. –sorriu ele. _ Como não sabia se você tinha tudo aqui, resolvi fazer umas compras.
_ Oi Joe, claro, foi até bom, confesso que não fiz nenhuma compra ainda. – Joe a acompanhou para dentro de seu apartamento.
_ Então você é o famoso Joseph. – disse Camilla, assim que eles entraram na sala, Joseph deu um passo para trás de sobressalto, assustado. _ Ai, vinho, amo vinho. – disse ela, vendo a garrafa um pouco exposta saindo da sacola de compras, na mão de Joseph.
_ Está é Camilla. – apressou-se Demi, antes que a amiga o assustasse mais. _ a minha amiga de infância. Eu cheguei a falar sobre ela...
_ Ah, sim, sei, você falou sim. É, prazer, Joseph.
_ Eu sei muito bem quem você é. E sabe...
_ Camilla. – interrompeu Demi.
_ Cale a boca. – brincou, mas Joe arregalou o olho, sem duvidas, Camilla era demais para o pobre homem. _ Como eu dizia, eu acho muito legal da sua parte vir ensinar a ela cozinhar. – Demi suspirou. Pelo menos ela não estava falando nada de ruim ou constrangedor. _ você não sabe o quanto ela precisa disso. Eu posso encher um dia inteiro só com histórias sobre como ela é ruim na cozinha. – Joe sorriu, relaxando-se.
_ Pena que esse não é o caso, não é Camilla?
_ Sem problemas, Demetria. – Joseph sentia certa tensão na maneira de falar das duas, mal ele sabia que na verdade não tinha nada de errado ali, tudo bem que Demi claramente queria que a amiga calasse a boca e os deixasse sozinhos, mas para ambas a maneira de dizer era até uma brincadeira, nada de briga, só uma tentativa de não parecerem duas loucas frente a ele, não que estivesse realmente funcionando. _ Sabe, vou para o seu quarto, me deu um sono agora, me chamem na hora que o almoço estiver pronto. – sorriu. _ Mas só se estiver muito bom, claro. – Demi revirou os olhos, mas sorriu. _ Prazer Joseph. Acho que vamos ser bons amigos também. – disse antes de sair para o quarto de Demi.
Joseph parou por alguns segundos para assimilar tudo.
_ Não ligue para ela, ela é uma boa pessoa, mas metade das coisas que ela fala é bobagem. – disse, acalmando-o.
_ Sem problemas.- disse, mesmo tenho todos os problemas. _ Eu... Quer dizer... Não, é... Isso mesmo... Eu vou começar pelo simples hoje, macarronada. – falou. Demi gargalhou.
_ Ei, acalme-se, somos só nós dois aqui. – e por acaso isso não é desesperador o suficiente? – pensou Joe.
_ Eu sei, é só que... Nada. – sorriu. _ Vamos começar?
_ Vamos! – respondeu empolgada.

Logo de cara Joe pode perceber que Camilla não brincava quando disse que Demi precisaria de ajuda, até mesmo para ligar o fogão Demi mostrou ter dificuldade, não ajudava que o fogão era de segunda mão e velho, seu acendimento automático não funcionava e só era possível liga-lo na base do fósforo. Após vencer esta primeira barreira, as coisas começaram a fluir mais rapidamente, ela poderia até ser ruim, mas sem duvidas era esforçada, prestava atenção em cada palavra e ato de Joe, fazia tudo do jeito que ele dizia.

_ Mas como que você sabe que está realmente no ponto? E se estiver duro?
_ Se você estiver na duvida, pode pegar um pouco e experimentar, mas já deu o tempo necessário para que o macarrão cozinhe, não precisa de mais tempo que isso. – explicou.
_ Tudo bem. – concordou Demi, para ela acertar o tempo dos alimentos sempre foi o maior desafio, a maior parte das comidas que ela tinha feito tinha queimado, a outra parte tinha ficado crua.
_ Deixe a água escorrer. – orientou Joe. _ Se precisar balance o escorredor. – disse. Demi sem pensar duas vezes levantou o escorredor de ferro, para balança-lo, mas assim que sentiu a dor em sua mão, soltou-o, deixando-o se espatifar dentro da pia. Joseph logo foi à seu socorro. _ Você não pode se esquecer do pano ou das luvas. – disse enquanto, rapidamente, com um pano de prato tirou o escorredor de dentro da pia, deixando-o na bancada, ao lado e pegando na mão de Demi e passando-o na água corrente da pia. _ Está doendo muito? – perguntou.
_ Parece pior do que é. – sorriu. Sua mão estava bem avermelhada. _ Eu estava indo muito bem para ser verdade.
_ Bom, pelo menos parece que a macarronada vai estar boa. – tentou dizer algo positivo. Demi sorriu.
_ No fim, deu certo. – concordou. _ Agora é só por o molho? – perguntou enquanto Joseph colocava o pano de prato em sua mão, pressionando delicadamente, para que não a machucasse.
_ Sim, bem simples, não é?
_ Até que não foi um bicho de sete cabeças. – concordou.


A contra gosto, Demi foi até seu quarto, lá encontrou a amiga ainda acordada, trocando incansavelmente os canais de TV.
_ Ai que ótimo, pensei que vocês não iriam acabar nunca. – reclamou. _ Mas o cheiro até que está bom.
_ Você sabe que não precisa ficar.
_ Nossa. Às vezes você parece ter vergonha de mim.
_ Não é vergonha de você, só é preocupação com o que você pode falar. – explicou-se.
_ Eu falei alguma besteira por acaso? – perguntou. _ Não. Sabe, nem tudo o que eu falo é besteira.
_ Eu sei, mas a maior parte é. – Camilla fez careta. _ Olha, Joe é tímido, extremamente tímido, estou indo bem devagar com ele, não quero que ele fique assustado, e eu gostaria muito que você pegasse leve também.
_ Demi, eu não sou nenhuma criança, nem ele, não tente agir como uma mãe para nós.
_ Não estou tentando. – reclamou. _ Mas se possível, perto dele, pelo menos por agora, finja ser muda.
_ Amiga errada, Demi, amiga errada.


Almoço servido, sem duvida Joseph sabia do que estava falando, o tempero do molho estava no ponto, a massa estava macia, mas não ficava desmanchando, tudo no ponto exato, assim como ele gosta.
_ Está muito bom. – disse Demi lambendo os beiços.
_ Pois é, e foi você quem fez. – ele relembrou. Demi sorriu orgulhosa, tudo bem que sem Joe na sua cola, dizendo o quanto por, quando parar, quando por mais, provavelmente aquela macarronada estaria intragável, mas no fim das contas, teoricamente, quem cozinhara realmente fora ela. Seu primeiro prato bem feito, sua mãe não acreditaria se ela contasse.
Camilla comia em silêncio, vez ou outra sorria para Joseph quando seus olhares se encontravam, e ele, gentilmente, sempre correspondia. Ficar calada era extremamente torturante para ela, principalmente frente àquela figura, ela poderia encher Joe de perguntas e sentia que ainda ficaria com um monte que duvidas sobre ele. Porém Demi estava ali, de olho na amiga, sempre a relembrando do pedido, agir como uma muda.
_ Sabe, cozinhar até que pode ser legal, principalmente se sua mão não se queima. – sorriu. Camilla revirou os olhos, sério que ela teria que aguentar esse papo chato? Ela não tinha ficado por isso. Mesmo a macarronada estando boa, sua língua coçava por algo a mais.
_ Foi apenas um pequeno acidente, só mesmo para sempre te lembrar de usar o pano ou luva para se proteger. – Ah que se foda o pedido!
_ É sério que você é virgem? Seu pinto por acaso é muito pequeno?

Continua

Oi gente? Tudo bem? Bom, esse capítulo ficou um pouco menor, porque meu notebook está com algum problema na bateria ou no fio do carregador, não sei, e eu tive que apressar por um pouco para escrever enquanto está tudo funcionado, mas espero que tenha saído algo que agrade a vocês.
Não se sei se vai precisar ir para o concerto, por isso não foi atualizar os dias de postagem hoje, amanhã, dependendo do que o técnico dizer, eu atualizo ou não.
Comentem.
Bjsss

Katiele: Fico muito feliz em saber que está gostando, espero que tenha gostado deste capítulo também, muito obrigada por comentar. Bjsss
Caah: Essa história vai ser mais fofa mesmo, mas ainda vai ter seu lado mais picante rerere, e quem sabe um draminha? Kk muito obrigada por comentar. Bjss
Cassia: Desta vez tentarei caprichar mais nesse ponto da personalidade kk, espero que tenha gostado deste capítulo, muito obrigada por comentar. Bjsss 

terça-feira, 19 de maio de 2015

2. “A amiga, o ilustrador, as desculpas” – Não Existem Poesias


1º de maio de 2015

E agora?
Como eu devo agir se encontra-la novamente?
E se nós pegarmos o elevador juntos novamente? Meu Deus, e se nós ficarmos presos juntos no elevador novamente?!
Ela me odeia?
O que eu fiz de errado? É claro que eu fiz algo de errado, mas onde foi que eu errei desta vez?
Nota para si: Nunca mais interagir com outro alguém.

Se para Joseph a noite passada lhe deu muita dor de cabeça, para Demi não estava muito melhor, afinal de contas ela que o dispensara.
O dia anterior, para ela, não tinha sido o melhor da sua vida, provavelmente chegava a fazer parte da lista de piores dias já vividos por ela. Talvez só perdesse para o dia em que descobriu que estava sendo traída pelo seu primeiro amor. Com isso, quando Joseph apareceu em sua porta, por mais que ela quisesse conversar com ele, seu animo estava zero, ela só queria se jogar na cama, talvez chorar mais, talvez entrar num coma, morrer, vai saber... Ela tinha consciência de que para Joseph tomar a inciativa de ir até sua casa, não deve ter sido fácil, ele não era de falar e por mais que tenha interagido com ela dentro do elevador, uma pessoa não muda em tão pouco tempo, ele ainda é tímido, e dispensa-lo não foi um bom incentivo para uma mudança.

Agora Demetria estava entrando na cafeteria em que sua amiga de infância, Camilla Belle, trabalha.
Camilla nasceu quase que vizinha de Demi, as duas sempre estudaram juntas, até que no terceiro ano, após ter participado de várias campanhas de menor tamanho, Camilla conseguiu um contrato como modelo em uma agencia de renome, com isso, a contra gosto dos seus familiares, ela largou tudo de veio para cidade grande. No fundo isso já era esperado por todos, Camilla não era o tipo de garota do interior, que gostava de ficar cheia de lama ou das poucas opções para diversão na cidade, coisas como noite do Karaokê ou do bingo não a agradava, o sossego não a acalmava. Camilla é o tipo de garota que gosta das luzes, do brilho, do lado bom e ruim de uma cidade, gosta de bares, do luxo, dos apartamentos, dos flashes, seu mundo não era no interior. Casar cedo? Ter quatro, cinco filhos? Nem mesmo no melhor livro de ficção que Demi fosse capaz de escrever essa descrição funcionaria com Camilla. Sua amiga vir para cidade fora um choque para ela, pois ela sabia que ela ficaria sozinha, mas era mais que obvio que um dia isso aconteceria.
  Não se pode dizer que tudo deu errado, Camilla realmente participou de grandes desfiles, já desfilou na Fashion Week de Nova Iorque, participou do programa Tim Gunn, mas não decolou tanto quanto poderia. Ela ainda trabalha como modelo, mas na maior parte do tempo é garçonete em uma cafeteria em um shopping luxuoso da São Francisco.
Bonita, alta, magra, legal e divertida, Camilla faz muita mulher questionar sua heterossexualidade, talvez seu único problema fosse sua falta de filtro, ela simplesmente fala o que vem na cabeça, sem nem mesmo ver se é uma fala adequada ou não, isso a colocava em situações complcadas, porém, por mais que ela tentava, ela não conseguia mudar, ela é assim e pronto.

_ Demi! – Camilla exclamou contente, assim que viu a amiga de infância. Agora ela estava em seu horário de almoço, o que a permitia sair da compostura um pouco e, por exemplo, abraçar a amiga no meio do salão do trabalho. _É incrível como você nunca cresce. – brincou. Demi riu.
_ Também senti muito a sua falta Milla.
_ Eu sei garota. – disse soltando-a. _ E você sabe que eu sinto sua falta também, não vou ficar repetindo.
_ Eu sentia falta da sua delicadeza também.
_ Você não pode reclamar muito, você me deixou esperando por você ontem a tarde inteira, sem me mandar uma mensagem se quer. Pô, eu fiquei preocupada. – fez cara de choro.
_ Eu precisava de um momento só para mim. – disse, seguindo-a até uma das cadeiras, mais próxima do balcão, onde alguns colegas de trabalho de Camilla ainda atendiam os clientes.
_ E eu precisava de uma localização sua. – contrapôs. Demi riu do exagero da amiga, tudo bem que uma ligação ou uma mensagem não faria tão mal, porém Camilla, naquele momento, mais parecia sua mãe. _ Você sabe que teoricamente eu sou sua responsável aqui, não sabe?
_ Camilla, nós temos a mesma idade. – indagou Demi.
_ É, mas você está aqui há dois dias e já deu uma de louca desaparecendo do mapa.
_ Eu estava em meu apartamento. – sussurrou Demi, revirando os olhos.
_ Não o tempo todo.
_ Milla, sério? – reclamou, Demi queria ter um encontro agradável com a amiga, e um momento agradável não incluía cobranças. _ Eu queria um momento só para mim e eu aposto que se eu ligasse você iria aparecer lá.
_ Tem uma loja de doces aqui no shopping que esta fazendo uma promoção para funcionários de qualquer loja daqui, eles tem um sorvete de chocolate e nozes que é o pedaço do céu na terra e isso Demi é o que você perdeu ao não me ligar. Você ia ter a melhor noite de foça da sua vida. –sorriu.
_ E por acaso a super modelo pode ficar tomando sorvete assim é? – perguntou Demi, aproveitando a deixa para mudar de assunto.
_ Minha genética ajuda garota. – Demi gargalhou, mesmo sabendo que no fundo era verdade, todos os integrantes da família de Camilla têm corpos magros, mesmo comendo feito porco, eles são os famosos magros de ruim. _ Mas claramente que eu ia compensar dando uma corridinha na esteira. – Demetria revirou os olhos. _ Pode revirar os olhos o quanto quiser sua preguiçosa. Esporte é vida. – riram. _ Mas e então, me fale um pouco sobre esse seu vizinho, o que você conheceu no elevador. – disse sugestiva. Demi tinha dado um pequeno resumo sobre seu dia anterior no telefone para Camilla.
_ Não venha com essa carinha, não aconteceu nada. – já deixou claro.
_ Como não Demetria?! Você perdeu a grande oportunidade de fazer algo que jamais iria esquecer.
_ Camilla, eu nem o conheço direito!
_ Vocês iam se conhecer muito bem. – se Demi não estivesse tentando argumentar, teria rido, só Camilla mesmo para pensar em algo assim. _ Já sei, ele é muito feio? – fez careta.
_ Não, ele é bonitinho. – disse sem jeito.
_ Bonitinho? – Camilla queria mais. _ Bonitinho como? Tipo fofo ou tipo feio arrumadinho?
_ Fofo? – respondeu indecisa.
_ Ele é gay? – perguntou Camilla, já com medo da resposta.
_ Não sei. – respondeu um pouco pensativa, tentando lembrar-se de algo que indicasse isso. _ Bom, ele não tinha muito o jeito de gay, mas isso não quer dizer muito. – as duas não falaram nada por alguns segundos, Camilla porque tentava entender o porquê de nada ter acontecido entre sua amiga e o vizinho dela, já Demi porque pensava em Joseph e em como ela tinha estragado tudo com ele. _ Mas quer saber? Eu não sou assim, ele sendo gay ou não, eu não iria transar com alguém que mal conheço dentro de um elevador.
_ E se vocês se conhecessem? – questionou Camilla, brincando, fazendo com que Demi risse. _ Ah, qual é Demi? Já faz o que? Dois anos? Você já deve ter teia de aranha entre essas pernas.
_ Fala mais alto, minha mãe não escutou ainda. – Camilla riu da amiga. Demi pensou em ficar brava, mas no fim das contas riu também. Com Camilla era sempre assim, ela poderia falar o que quisesse, no fim das contas era impossível brigar ou ficar brava. _ Ele é tímido, sabe? Bem, tímido. E depois de tudo, no fim da noite eu fui a casa dele, levei daqueles biscoitos que minha mãe faz. Você lembra?
_ Ah, os biscoitos da sua mãe. – disse com prazer, lembrando-se de como era bom pega-los assim que saiam do forno. A língua queimava, mas o gosto das bolinhas de chocolate derretidas valia a pena.
_ Pois é. Ele me ofereceu chá, todo educado, e eu recusei, fui embora. – Demi lembrava-se com pesar. _ Aí depois ele bateu na minha porta, todo gentil, tentando uma aproximação, e eu nem mesmo o deixei entrar, já falei na cara que queria ir dormir. Meu Deus! – disse tampando seu rosto com suas mãos. _ Você precisava ver a cara dele de decepção. – tornou a olhar para Camilla.
_ Depois eu sou a bruta. – comentou.
_ Sabe, eu esperava um consolo.
_ Você tá errada.
_ Eu sei disso, agora preciso da solução. – Camilla ajeitou-se na cadeira, ficando mais ereta. Agora era a hora de falar sério.
_ Ok, você quer uma solução. Pois aqui está uma solução. Hoje, vá ao apartamento dele e peça desculpas.
_ Ele deve estar querendo distancia de mim agora.
_ Demi, vocês são vizinhos, uma hora vocês vão se reencontrar, é impossível uma distancia. – no fundo ela sabia que sua amiga estava certa, nem ela nem ele poderiam fugir do inevitável: um reencontro. _ Você nem foi tão rude assim, não foi como se você não o quisesse, você precisava do seu tempo após ter um dia de merda. E se ele for realmente fofo ele terá que entender isso.
_ É só que... Eu sei que deve ter sido difícil para ele se predispor a ir ao meu apartamento, ele é todo travado, não queria me deixar colocar um apelido nele e depois ele veio todo legal deixando... – ah que coisa boba – Pensou Demi.
_ Você e sua mania de apelidos.
_ Ele chama Joseph, Joe é bem mais simples.
_ Nem vem, você já colocou apelido numa menina chamada Ana. – relembrou-a.
_ A é bem mais simples. – justificou-se. Camilla apenas sorriu, cada um com sua mania.
_ Sabe? Talvez ele não esteja tão chateado, talvez ele torne a se fechar, mas você conseguiu destrava-lo uma vez, destrave-o novamente. – disse, Demi parou para pensar um pouco.
_ Você pode ser boca suja, mente poluída, alta demais para meu gosto, mas sem duvidas você é a melhor amiga que eu podia ter. – disse, esforçando-se para abraça-la, do outro lado da mesa.
_ Eu sei. – respondeu Camilla, sem se movimentar.
_ Ridícula. – reclamou Demi ao ver que Camilla estava brincando com sua cara.
_ Ah vem cá, minha baixinha preferida. – levantou-se e abraçou-a. _ Sabe? Eu realmente senti sua falta.
_ Eu sei. – Demi imitou-a.
_ Eu só deixo essa passar porque provoquei. – as duas ainda continuavam abraçadas.
 Foi um ano e meio sem se verem pessoalmente, apenas por mensagens e Skype. Mesmo Camilla sendo sociável e tendo rapidamente feito amigos em São Francisco, ela sentia falta de sua amiga do interior, Demetria era a única em que Camilla sabia que poderia confiar de olhos fechados, a única que não se ofendia com seu jeito de ser e que, de certa maneira, até entendia e concordava. As duas tinham tipos diferentes de visão do mundo, mas nunca que as diferenças se combinaram tão bem, como com elas.
O telefone de Demi tocou, indicando a chegada de uma mensagem.
As duas se separaram e voltaram a se sentar.
Demi pegou seu celular e leu a mensagem.
_ Ah, é o ilustrador que eu comentei com você hoje cedo. – disse, já sabendo que Camilla perguntaria. _ ele disse que já está aqui. – completou olhando para todos os lados, tentando encontra-lo. Logo Demi encontrou-o, logo na porta, acenando para ela. Como previsto ele estava vestido de maneira bem informal, ele era conhecido por odiar trajes de gala, mas tampouco nunca foi visto andando desarrumado, talvez em seu particular ele se permitisse a tal rebeldia, mas em publico? Jamais. O look de hoje era uma blusa de V branca com listras horizontais de um azul marinho bem escuro e uma calça jeans de lavagem clara. Ao vê-lo Demi viu que tinha acertado no look também casual, um vestido de alcinha estampado, que ia até a altura do joelho, nada de joias, apenas algumas pulseiras sortidas.
_ Ai meu Deus! Não me diga que é ele. – Camilla não conseguia nem piscar. O ilustrador começou a andar até a mesa em que elas estavam. _ Eu vou interromper meu horário de almoço agora, e depois vou voltar, quero que você me conte tudo, inclusive os números de contato. – disse, saindo poucos segundos antes de ele chegar.
_ Ei. – sorriu tímido. _ eu sou o Sam Claflin, o ilustrador. – estendeu a mão para cumprimenta-la.
_ Olá. Eu sou Demetria Lovato, a escritora. – tentou se apresentar da melhor maneira possível, já de cara tentando agrada-lo, ele poderia abrir boas portas para ela, uma boa primeira impressão era tudo o que ela precisava.

Alto, cabelo castanho claro, um sorriso sempre tímido, porém encantador. Era possível aquele homem ser real? Camilla observava de longe, tentando concentrar-se mais em seu trabalho no que em sua amiga. Para sua sorte, ou para seu azar, o movimento agora estava fraco, o que não a deixava com muita opção a não ser, olha-los, quer dizer, olha-lo.
Demi não escaparia de um longo interrogatório.
Ele levanta a mão. Ótimo. Um pedido. A atendente? Camilla.

Aparentemente Demi havia causado uma boa impressão, ela tentara resumir a história da maneira mais eletrizante possível, e, pelas perguntas que ele fazia e as ideias que ele dava para uma possível capa, ela tinha chamado sua atenção. Porém, assim como tudo estava indo bem, tudo poderia ir muito mal. E agora que Camilla vinha para atendê-los, Demetria torcia para que a amiga se mantivesse profissional.
_ Já querem fazer seu pedido? – perguntou simpática, ignorando Demi.
_ Ah sim. – começou Sam, sem perceber a leve tensão entre as amigas. Se Demi estava morrendo de medo da amiga estragar algo, Camilla, já sabendo do pensamento da amiga, sorria por dentro, pois ao contrario do que ela achava, e do que seria mais provável vindo dela, a modelo não faria nada, apenas atenderia aquele ilustrador de livros, com beleza digna de ser descrito como um príncipe encantado dos contos da Disney. _ Eu gostaria de um cappuccino gelado, médio, de chocolate e Muffin napolitano. – Camilla anotou tudo em seu bloquinho.
_ E você? – Demi surpreendeu-se com a maneira que Camilla estava agindo, no fundo ela agradecia, mas era estranho ver a melhor amiga tratando-a como se fosse apenas uma cliente comum.
_ Não, nada, muito obrigada. – respondeu. Sem hesitar, Camilla se retirou, deixando novamente Demi e Sam sozinhos.
_ Tem certeza que não quer nada? – perguntou sem jeito. _ Você não se incomoda em me ver comendo e não comer nada?
_ Claro que não. – Demi sorriu pela preocupação do rapaz. _ Ainda estou meio cheia do café da amanhã. – justificou-se.
_ Pelo jeito foi um belo café da manha então. Já são duas da tarde. – Demi riu sem graça, ela estava tão nervosa com tudo que nem mesmo se permitiu a sentir coisas simples como fome, nem mesmo percebera que já era tão tarde.
_ É, acho que eu exagerei bastante hoje. – mentiu, para não ter que demonstrar seu nervosismo.
_ Exageros às vezes são bons. – disse Sam, dando de ombros. _ Mas e então, você toparia em me dar a cópia do livro?
_ Claro, eu posso imprimir assim que chegar a casa. Tenho tudo salvo em meu computador.
_ Você acha melhor me mandar por anexo no e-mail? Assim você economiza tanto o papel quanto a tinta. Ecologicamente amigável. – sorriu.
_ Me parece bem melhor mesmo. – concordou Demi.
_ Perfeito. Eu te passo meu e-mail. Mas antes, eu vou ao banheiro, tem algum problema? – perguntou.
_ Ah não, claro que não, pode ir.
_ Ok, se meu pedido chegar, é só guarda para mim. – sorriu e levantou-se sem aviso prévio.

Parecia até brincadeira do destino, tinha que algo acontecer, o pior é que desta vez nem foi por maldade, era acidente mesmo.
Assim que Sam levantou e virou-se em direção ao caminho que o levaria ao banheiro, Camilla chegou com o pedido. O resultado? Camilla trombou com Sam com tudo, bandeja, cappuccino e Muffin, deixando-o com camisa toda suja.
_ Ai meu Deus, me desculpe. – pediu Camilla instantaneamente, já pegando um lenço em seu avental de garçonete e tentando limpar algo, mas no fim ela só estava atrapalhando mais.
_ Não, tudo bem. – respondeu Sam, tentando fazer com que ela parasse de tentar limpa-lo. _ Essa blusa já é um pouco velha, e nada que uma boa lavada não resolva. – acalmou-a, sem saber se a parte do “é só lavar” era 100% verdade. _ E eu já estava indo no banheiro, eu dou meu jeito por lá. – retomou, agora obtendo sucesso e fazendo-a parar.
_ Você vai ter um belo desconto, eu falarei com o gerente. – Camilla tentava se concertar.
_ Sem problemas, sério, não precisa se preocupar, foi um acidente, e se seu gerente achar ruim, eu falo com ele, sério, não precisa se preocupar. – tentou conforta-la. _ Eu só vou ao banheiro, e quando voltar, se precisar de mim para algo, eu estarei disposto a te ajudar. – ele esperou por uma interjeição de Camilla, mas ela não disse nada, apenas concordou. Assim Sam retomou seu caminho até o banheiro, deixando as duas amigas para trás.
_ Meu Deus, ele não é só lindo como um príncipe, ele age como um príncipe. – Demi riu.
_ Ele realmente é muito simpático.
_ Até demais não é? – perguntou encabulada. _ Será que na verdade ele é um psicopata e sua gentileza é como ele atrai suas vitimas?
_ Você precisa parar de ver o canal ID.
_ Como se você trocasse de canal. – retrucou Camilla, ela tinha pegado a mania de assistir o Canal ID graças a Demi. Demetria apenas riu concordando, enquanto Camilla abaixou-se, pegando o copo de cappuccino, que agora estava quase que completamente vazio e o Muffin, que não estava tão destruído, mas que, como tinha caído no chão, não era mais aproveitável. _ Sabe? Valeu a pena, eu pude tocar no tanquinho dele e Demi... Que tanquinho. – Demi sabia que a amiga não perderia a oportunidade de se aproveitar da situação. _ E você viu o tamanho daquele sapato? – perguntou. _ Demi, - foi para frente da amiga e tocou-lhe o ombro. _ele não só é lindo, educado e com tanquinho, ele é bem dotado. – Camilla se segurou para não gritar, mas ela sorria de orelha a orelha. _ Por favor, me diga que ele é solteiro.
_ Não sei.
_ Como assim não sabe? – tirou a mão do ombro da amiga, decepcionada. _ Vocês estão conversando a mais de uma hora, não é possível ser só sobre o livro.
_ E se eu te disser que foi?
_ Demetria, eu vou te bater. – ameaçou. _ Você deveria estar descobrindo coisas sobre ele, para me passar a informação.
_ Te juro ser mais eficiente quando ele voltar. – prometeu Demi.
_ Perfeito.
_ Só me responde uma coisa antes. Isso tudo foi apenas um acidente, não foi? – perguntou Demi, querendo sanar o último vestígio de duvida.
_ Nem querendo eu conseguiria fazer uma cagada dessas, amiga. – respondeu, por mais que Camilla tivesse adorado poder toca-lo e sentir seu peitoral definido, esta não era a forma que ela gostaria de ter sido introduzida a ele. _ Ele deve estar me odiando agora não é? – perguntou.
_ Acho que não. Ele sabe que não foi sua culpa. – respondeu Demi, com uma certeza que parecia arriscada demais, já que ela não o conhecia tão bem assim, para poder afirmar algo.
_ Assim espero. – suspirou Camilla. _ Vou pegar o pano, melhor o chão estar limpo quando ele voltar.

Depois de tudo a conversa não durou muito mais, como prometido, Demi conseguiu arrancar algumas informações promissoras, e na hora de se despedirem, Sam gentilmente a convidou para um encontro de artistas de várias áreas que aconteceria em sua casa no próximo fim de semana.
Haveria melhor oportunidade para entrar de vez no mundo da arte? Claro que não.

_ Não só solteiro como recém-largado pela noiva. – respondeu Demi, encontrando com sua amiga no balcão.
_ Ainda sofrendo? Superando? Já superado?
_ Doendo, sangrando. – respondeu Demi.
_ Perfeito, mais sensível impossível, precisando de um carinho. Eu sou ótima com carinhos. – sorriu maliciosa. _ Numero do telefone?
_ Que tal ir comigo a casa dele no próximo fim de semana? – sugeriu Demi. _ Ou você prefere mandar uma mensagem do tipo: Oi, eu sou aquela garçonete trombou com você e sujou sua blusa com cappuccino, como é que você está? Tudo bem? E sua blusa? – Demi riu e de si mesma, e Camilla fez careta, rindo junto.
_ Acho que ir a casa dele é uma ideia melhor. Mas não posso confirmar, fins de semana costumam sempre aparecer algo na agencia. – respondeu. _ Nunca se sabe quando que se pode decolar. – completou sonhadora.
_ Bom, dos dois jeitos você sai ganhando. – ponderou Demi.
_ Você vai voltar aqui amanhã?
_ Algo me diz que você está querendo que eu vá embora. – percebeu.
_ Algo me diz que você tem que encontrar mais alguém hoje.
_ Algo me diz que esse encontro vai ser tão assustador quando esse.
_ Algo me diz que é pura paranoia sua. – Demi suspirou pensativa.
_ Nós duas nascemos para fazer merda, quando se diz em relação a homens. – observou.
_ Não só merda. – respondeu Camilla instantaneamente. As duas riram.

Torta de frango, parecia muito boa, mesmo tendo sido esquentada no micro-ondas, mais uma marmita que a mãe lhe dera para não passar fome. Novamente lá estava ela, com um prato na mão e um pedido de desculpas na boca, frente a porta do vizinho tímido. Os trincos abriram.

Joseph, ao contrario da maioria dos americanos, que aproveitaram o dia do trabalhador para descansar ou sair, passou todo o dia primeiro de maio em casa, fazendo as provas finais que seriam aplicadas em algumas semanas, era um pouco tedioso, mas necessário, quanto mais cedo ele fizesse, menos trabalho ficaria acumulado, daqui para frente ele só tinha que se preocupar em terminar de dar matéria a tempo, para não acabar prejudicando seus alunos.
Ele não podia negar, entre uma questão e outra ele tinha parado para pensar na nova vizinha, até mesmo cogitou de ir novamente a seu apartamento, mas assim que se lembrou de ontem, a ideia lhe fugiu como fumaça entre os dedos.
Ela não deveria estar disposta a aguentar um homem de 28 anos sem vida. Ela tinha mais o que fazer, provavelmente publicar seu livro, há algo mais emocionante?
Bom, Joseph não sabe. Emoções não faz parte de sua vida.
Quer dizer, talvez essa palpitação mais forte em seu peito e a leve tremedeira nas pernas fosse uma emoção, se é assim toda vez, Joseph preferia não mais sentir.
_ Oi. – disse Demi tímida, ao ver que ele ficou sem reação. _ Eu ainda posso te chamar de Joe? – sorriu fraco, mas esperançosa.
_ Não vejo o motivo para não. – sorriu também.
Ela não estava brava.
Ele não estava bravo.
Havia uma chance ali.
Chance para ambos consertarem seus erros.

Continua

Olá, bom gente, neste exato momento não estou em casa, nem no meu computador, esse capítulo será postado automaticamente pelo blogger em algum momento do dia 19/05 (uhuu vidente). Bom, eu terei que fazer uma viagem para o interior e não poderei levar meu pc, por isso já vou deixar na postagem automática.
Com isso não responderei os comentários hoje, já que não quero deixar ninguém para trás, mas prometo responder a todos no próximo capítulo, então, por favor, comentem J

Bjsss 

quarta-feira, 13 de maio de 2015

1. "O Elevador" - Não Existem Poesias



30 de abril de 2015

Cinco e meia da manhã. Ainda estava cedo, mas ficar ali olhando para as paredes brancas de seu apartamento, tampouco parecia atrativo. Talvez, chegar mais cedo à escola fosse bom, poderia descansar um pouco antes de dar a sua primeira aula do dia.
Sem mais enrolar, Joseph deu o último gole do seu café, foi ao banheiro, deu uma escovada rápida em seus dentes, voltou para sala, pegou sua mochila, com o material do dia e sua chave.
Antes de sair, verificou se tudo estava no lugar certo, sorriu satisfeito ao ver que estava. Se ele ainda morasse com seus pais, seu padrasto provavelmente riria dele, essa mania de Joe de sempre deixar tudo organizado sempre o pareceu uma piada, já a mãe de Joseph, apesar de achar o seu excesso desnecessário, gostava, afinal de contas era menos trabalho para ela.
Joseph nunca entendeu a dificuldade das pessoas de serem organizadas, para ele organização deveria ser algo bem mais fácil de manter do que a desorganização, pois, se tens tudo organizado, pode encontrar tudo o que você procura; limpar a casa se transforma numa tarefa bem menos árdua, fora que mesmo que esteja tudo sujo, ainda parece estar tudo limpo. Organização era a chave de tudo.
Ao sair, trancou a porta, e antes de ir para o elevador, observou a porta do apartamento ao lado, agora tudo estava bem silencioso, bem ao contrário da noite anterior.

Aquele apartamento estava à venda por meses, ninguém mais achava que seria vendido, e o antigo dono parece ter sentido isso também, pois diminuiu seu preço quase pela metade, e com isso, em menos de três dias, o apartamento foi vendido. Ontem a nova ou o novo vizinho ou vizinha se mudara, e a barulhada de moveis sendo arrastados, de paredes sendo furadas por pregos, atormentaram a noite de sono de Joseph. Se ele fosse menos tímido, reclamaria, mas ele nem mesmo tinha esperanças de tomar coragem de falar, ele não era assim, ficar calado era sua especialidade, a não ser, é claro, durante suas aulas, ele é o professor, ele tem que falar.

Andando apenas alguns passos, Joseph chega a porta do elevador, aperta o botão de decida, e acompanha pelo pequeno monitor, que dizia que o elevador estava subindo para pega-lo.

Blim
As portas do elevador se abrem.
Joseph entra e aperta o botão indicando que quer ir ao térreo. Quando as portas do elevador estão prestes a se fechar, ele escuta um grito fino e desesperado.
“Espere! Segure a porta para mim”.
Joseph, rapidamente põe a sua mão entre o pequeno vão entre as portas, instantaneamente elas param e tornam a abrir.
Na porta está uma garota, parece bem jovem, em suas mãos há vários papeis, mesmo estando com uma bolça grande nos ombros que, aparentemente, está bem vazia.
Ela entre e sorri agradecida a Joseph.
_ Nossa! Muito obrigada mesmo, estou com muita pressa. – falou ela, um pouco ofegante. Joseph apenas sorri, demonstrando que a escutou, mas que não iria criar uma conversação. As portas tornaram a começar a se fechar. _ Você é meu vizinho, não é? – perguntou ela enquanto tentava colocar as folhas todas de uma vez em sua bolça, algumas caíram no chão, outras entraram na bolça toda amaçada. Aquela era uma demonstração clássica de como Joseph estava certo em relação a sua teoria sobre a organização.
Educadamente, Joseph ajudou-a, pegando-a as que caíram e esperando que ela se ajeitasse para entrega-las a ela. _ Obrigada mesmo. – sorriu sem graça. Novamente Joseph só sorriu. _ Você é mudo? – perguntou sem jeito. _ Eu sei algumas coisas na linguagem de sinais.
_ Não. – respondeu Joseph. _ Eu só falo pouco mesmo.
_ É, percebe-se – sussurrou. _ Demetria. – disse ela, estendendo sua mão para um cumprimento. _ Mas, por favor, me chame de Demi.
_ Joseph. – respondeu a seu cumprimento.
_ Você mora no 502 ou no 503? - perguntou ela, tentando manter o assunto. Joseph percebeu que não teria escapatória, enquanto estivesse naquele elevador, ele teria que interagir com aquela garota.
_ 502. – respondeu.
_ Então você é meu vizinho de parede. – disse Demi empolgada. _ Em falar nisso, mil desculpas por ontem a noite. Cheguei do interior, meu pai só poderia me ajudar ontem naquele horário, se não eu teria que montar e carregar tudo sozinha. – falou de maneira tão empolgante que Joseph se perguntou se ele estava enganado e, ao invés de estar demonstrando incomodo, estivesse demonstrando interesse na sua conversa.
_ Sem problemas. – respondeu.
_ Nossa. Você realmente é de falar pouco, não é? – perguntou. E você de falar muito – pensou Joseph.
_ É. – Demi suspirou, percebendo que dali não sairia mais nada.
_ É impressão minha ou esse elevador não está descendo? – perguntou ela. Joe olhou para o painel e percebeu que o elevador estava parado no 3º andar, a porta não dava sinal de que iria abrir.
_ Ah não! – exclamou Joseph. _ O elevador parou. – concluiu frustrado.
_ E você concluiu uma frase com mais de três palavras. – sussurrou Demi, porém não baixo o suficiente. Joseph a encarou já impaciente, mal a conhecia e já não gostava da sua pessoa. Demetria percebeu. _ Tá, desculpa-me, só me ajude a abrir esta porta e assim que eu sair você ficará livre de mim. – falou ela, jogando sua bolça no chão e tentando, inutilmente, abrir a porta sozinha, agarrando as bordas da porta de aço e forçando-as para o lado.
_ Você está louca? – perguntou Joseph, desta vez ele teve que intervir. _ Podemos ligar pelo interfone para a portaria, eles vão nos tirar aqui.
_ Caso você não se lembre, eu estou atrasada.
_ E por acaso você acha que o que você está fazendo vai realmente ser melhor? – perguntou.
_ É alguma coisa. – respondeu Demi irritada. _ Deve ter algum botão para abrir esta porta. – disse ela, vindo até o painel e tirando Joseph de lá. _ será esse? – disse pensativa e quando foi apertar o botão, Joseph agarrou seu braço. Demetria olhou-o assustada.
_ Você, por acaso, é suicida? – perguntou. _ Você por acaso não aprendeu os riscos que sair de elevador assim? Não te ensinaram nada na escola?
_ Não! Estavam mais preocupados em me ensinar Números Imaginários. – respondeu nervosa, se afastando de Joseph, e jogando-se no chão, ao lado de sua mochila.
Joseph preferiu ficar calado na dele, aquele não era o momento para causar confusões.
Joseph apertou o interfone e esperou que alguém na portaria o atendesse.
_ Sim. – Joseph logo reconheceu a voz de Brian, ele era um velho, negro e um pouco acima do peso, um homem legal que trabalha quase que a vida inteira como porteiro do prédio.
_ Oi. Aqui é o Joseph, do 502, estou preso no elevador. – disse.
_ Ah sim, eu percebi que ele parou, não sabia que tinha alguém nele. Eu já liguei para a manutenção, mas eles disseram que só começam a trabalhar às oito da manhã. Tem algum problema? Você acha que consegue ficar aí? – Joseph não respondeu instantaneamente, seu primeiro horário de aula eras às 8:20, o que significava que ou chegaria bem atrasado ou que teria que ser substituído, não era o fim do mundo, não se ele estivesse sozinho, mas três horas preso em elevador junto a uma garota tagarela não seria tão fácil assim.
_ Não! – gritou Demetria do outro lado, Joseph se assustou.
_ Está tudo bem aí? – perguntou Brian preocupado. _ Eu posso tentar olhar em outro lugar, mas a assistência técnica ia nos cobrar uma multa altíssima, você sabe que o Theodor iria ficar uma fera. – Theodor é o sindico do prédio, Joseph não sabia muito bem o porquê ele tinha ganhado. Talvez todos achassem que contenção de custos, sua maior promessa, era uma boa, só que isso significava poucas manutenções, poucas reformas, poucas melhoras, gastos apenas com o imprescindível, tudo bem que isso diminuiu o preço do condomínio, mas valia apena ficar com a fachada de prédio toda suja, um jardim que nem mesmo era mais jardim, um playground que era improprio para as crianças e um elevador que ficava parando quando bem entendia? Naquele momento Joseph agradeceu por não ter dado seu voto a aquele homem, pelo menos não tinha culpa do estado do prédio.
_ Não, está tudo bem, é só uma louca aqui dentro.
_ Eu tenho nome. – reclamou Demi. _ E não é louca. – Joseph deu de ombros.
_ Bom, tudo bem então, qualquer coisa me avisa.
_ Sem problemas Brian, obrigado.
Joseph recostou-se na parede do elevador, olhando para o relógio e percebendo que não tinha nem mesmo três minutos que ele tinha saído de casa, o que o fez perceber que três horas não era tão rápido assim, pelo menos agora aquela garota, Demi, não estava mais o importunando, mas sabe se lá quanto tempo ia durar...

20 minutos.
Exatos vinte minutos.

_ Isso acontece sempre? – perguntou Demi. _ O elevador parar. – completou ao ver que Joseph não entendera.
_ Havia reclamações, mas parar totalmente, nunca. – respondeu, já esperando pela próxima pergunta, mas ela não veio.
Joseph acabou se cansando e sentou-se também, no outro extremo do elevador, não era lá muito conformável, mas não era lá tão ruim.
Ao olhar para Demetria, ele percebeu o porquê do silencio. Ela parecia estar prestes a chorar.
Joseph a preferiria falando, ele era pior para consolar do que para se comunicar.
_ Pelo jeito o seu compromisso é bem importante. – ele comentou.
_ É.- respondeu  cabisbaixa. No fundo, Joseph esperava que, após sua iniciativa, ela voltasse a se animar e novamente não parasse de falar, ele não ligaria, seria até melhor, ele escutaria, ou fingiria que escutaria, não teria problemas, mas para isso? Para isso ele não estava preparado. Demi pareceu perceber seu conflito e sorriu fraco, deixando com que algumas lágrimas saíssem, mas logo ela limpou-as. _ Parece até que mudamos de lado. Você tentando assunto e eu respondendo friamente.
_ Eu não respondo friamente. – tentou defender-se, mas depois sorriu timidamente. Talvez ele não fosse a pessoa mais sensível do mundo, ele sempre foi mais fechado, ninguém soube explicar o porquê, sua infância tinha sido completamente normal, nenhum trauma, nenhum abuso. No fim todos concluíram que era da sua natureza controlar seus sentimentos de maneira tão bruta. Mas Joseph tampouco é um robô, ele tem seus sentimentos, só que tem uma incrível dificuldade de demonstra-las. Demetria concordou, suspirando.
_ Era um tipo de reunião, era bem importante para mim. – respondeu.
_ Um tipo?
_ Não era uma reunião. É que eu sou escritora. – começou. _ Grande parte da minha vida eu só escrevi poesias, acabei vendendo para amigos, conhecidos, algumas eu só postei na internet, mas aí eu resolvi escrever um livro, um romance, e agora estou tentando publicá-lo, só não está sendo tão fácil. Eu consegui com que uma editora, uma das melhores no momento, lesse meu livro, e eles me pediram para levar e era um horário reservado para mim. Mas...
_ E você não pode ligar? E falar que não vai ou que vai chegar atrasada? – perguntou obvio.
Ele não entende. – pensou Demi. Não foi tão fácil assim chegar a aquele ponto. Foram meses sendo uma completa mala sem alça, insistindo todos os dias, mais de uma vez por dia, por mensagens e telefonemas, foram tantos nãos, que Demi perdeu as contas, ela os tinha vencido, literalmente, por cansaço.
_ Não é tão fácil. – respondeu sincera.
_ Mas é tão custoso assim tentar? – insistiu.
Tentar. Tentar era tudo o que Demi fazia nos últimos anos, quem sabe aquele cara, seu vizinho, não tinha razão? Pra quem já tanto tentou, por que não mais uma vez?
Apesar de decidida, ainda um pouco hesitante, Demetria pegou seu celular, num compartimento na frente de sua bolça, discou os números, que de tanto discados, já estavam nas pontas dos dedos e se preparou para a nova maratona de tentativas.

Olhar era até agoniante, quanto sugeriu para que ela tentasse; Joseph não sabia o quão penoso seria o processo:
Na primeira tentativa, após ficar escutando musiquinha de espera, ela entrou em um longo processo de perguntas do atendimento eletrônico. No final, quando ia ser encaminhada para a atendente, o telefonema caiu.
Na segunda tentativa ela foi um pouco mais longe, o atendente chegou a atendê-la, mas mandou-a para outro departamento, e nesse momento a chamada foi encerrada novamente.
Na terceira tentativa ela chegou a ser encaminhada, mas quem a atendeu a fez esperar por quase dez minutos e novamente o telefonema caiu.
Na quarta tentativa ela nem mesmo chegou a falar com o primeiro atendente.
Agora cá estávamos com a quinta tentativa, a mais promissora até agora, ela tinha acabado de passar para a terceira atendente, se ela conseguisse resolver seu problema antes de um: O telefone caísse novamente, dois: Os últimos centavos de crédito no celular de Demi acabassem. Tudo seria, por fim, resolvido.
Da próxima vez que alguém dissesse a Joseph que não é tão fácil assim, ele ficaria quieto e concordaria.
_ Sim, sou eu. – disse Demi tão alto que assustou a Joseph. Parece que tinha sido atendida. _ Ah sim, era às 5:50. – Demi esperou pela resposta. _ Sério? Nossa, que ótimo! Muito obrigada mesmo. – disse quase que tornando a chorar. _ Eles disseram que não tem problema, que eu posso só entregar e eles lerão sem minha primeira apresentação. – disse empolgada, assim que desligou seu celular.
_ Isso é realmente ótimo. – disse Joseph, ele até que demonstrou um pouco de animação por ela. Mas nem era porque leriam seu livro, mas porque ela não tinha mais que ficar ligando para eles. Aquilo chegava a ser um desrespeito com a garota.
_ E você? – perguntou ela. _ A onde você vai chegar atrasado hoje?
_ Umm, talvez eu não chegue atrasado. – respondeu.
_ Não? – perguntou surpresa.
_ Vou ao trabalho, mas só preciso estar lá as 8:20.
_ E você estava saindo às 5:30 da manhã? – perguntou com certo choque.
_ Parece tão ruim assim?
_ A escola que você trabalha fica muito longe? – perguntou.
_ Fica a duas quadras, uns quinze minutos à pé.
_ Não parece. É. – respondeu.
_ Mais imagine se eu tivesse deixado para sair quase na hora de chegar lá, eu estaria preso aqui e não chegaria. – contrapôs. _ Sem ofensas.
_ Bom, na verdade não, alguém, provavelmente eu, teria entrado aqui e ficado presa, e você teria decido as escadas, e ainda assim chegado a tempo.
_ Talvez fosse meu destino fosse ficar preso neste elevador, e ao sair mais cedo eu impedi que meu destino me atrapalhasse de ir ao trabalho.
_ Você sempre age assim?- perguntou.
_ Assim como?
_ Tão, ah, sei lá, sempre saí mais cedo?
_ Talvez não tão cedo, normalmente eu saio as 6 mesmo, mas hoje eu acabei acordando mais cedo.
_ E o que você faz?
_ Sou professor.
_ Sério? – perguntou empolgada. _ Eu passei uma boa parte da minha vida achando que ia me tornar professora, mas no fim descobri que não tenho muita paciência para explicar. – fez careta.
_ Às vezes é difícil, mas ou você se controla ou vai ter que enfrentar um processo. Advogados são caros. – riu e Demi o acompanhou.
_ E você dá aula de que? – perguntou. Joseph hesitou por alguns segundos.
_ Matemática. – Demi corou instantaneamente, sabia que tinha falado merda.
_ Sabe, matemática até que é legal...- tentou se consertar. _ Só não é pra mim.
_Você é das letras e eu sou dos números. – resumiu Joseph. Demi apenas concordou com um sorriso. O silêncio retornou por alguns minutos. Mas logo Demi retomou um assunto.
_ Posso te chamar de Joe? – perguntou.
_ Não. – respondeu quase que sem pensar.
_ Por quê?  - perguntou surpresa com a resposta dele.
_ Qual o problema com Joseph?
_ É muito grande. Tipo Demetria. – exemplificou. _ Joe é simples. Simples as vezes é melhor.
_ Eu ainda prefiro Joseph.
_Eu vou te chamar de Joe. – disse desafiadora.
_ Eu não vou responder.
_ Você vai.
_ Vou não.
_ Vai sim.
_ Quantos anos você tem?
_ Quantos anos você tem?
_ Sou mais velho que você.
_ Homens amadurecem mais devagar.
_ você que está me desafiando com um “vai sim” – imitou uma voz infantil.
_ E você está me desafiando com um “vai não” – imitou-o.
_ Você é extremamente infantil. – falou Joseph.
_ Não seja tão duro consigo mesmo.
_ Não sou duro comigo mesmo. – defendeu-se.
_ Você não se permite nem mesmo ter um apelido.
_ Eu gosto do meu nome do jeito que é.
_ Careta.
_ Eu estava começando a gostar de você.
_ É? – perguntou Demi sorrindo indicativa.
_ Não desta maneira. – Demi apenas levantou a sobrancelha direita. _ Na verdade eu te odeio agora.
_ Ódio é uma palavra forte. – Joseph não respondeu. _ Você deveria relaxar.
_ Não. – disse. _ Não aceitarei suas ervas. – Demi gargalhou.
_ Ervas? – perguntou ainda em meio as risadas.
_ Relaxar? Eu trabalho com jovens, sei como vocês relaxam hoje em dia.
_ Quantos anos você acha que eu tenho. – recuperou seu folego.
_ Você é jovem, aposto que...
_ Que...? – incentivou. 
_ Que... Que usa... – Demi voltou a rir.
_ Sabe, na verdade eu iria te sugerir música, ou yoga, mas se prefere as ervas. – tornou a rir.
_ Não foi nada engraçado. E me desculpe se ofendi ao dizer que... Que usava...
_ Não me ofendeu, não sou tão travado quanto você.
_ Não sou travado.
_ Acho que vamos nos dar bem. – disse divertida.
_ Nós já não estamos nos dando bem. – respondeu Joe, quer dizer, Joseph.
_ Para mim estamos. Você é engraçado.
_ Não foi você que disse que eu sou travado.
_ É exatamente isso que te faz engraçado. É fácil te provocar.
_ E é exatamente o que te faz tão chata, você provoca demais.
_ Você pode me provocar também se quiser. – Joseph não disse nada, nem Demi.

_ Quantos anos você tem? – perguntou Joseph, após se acalmar um pouco.
_ Chuta.
_ Você não pode só responder? – Joseph odiava quando as pessoas pediam para ele chutar algo.
_ Vou fazer 20 daqui a exatos dois meses. E você?
_ Farei 28 daqui a exatos seis meses e... – pensou um pouco. _ quatro dias.
_ Você é jovem para ser professor.
_ Nem tanto.
_ A maioria dos meus professores eram velhos a beira da morte.
_ Você é sempre tão delicada?
_ Eu não estou brincando, minha professora de biologia teve um infarto dez minutos após sair da minha sala.
_ Sua sala deveria ser horrível.
_ Dizem que era a pior daquele ano.
_ Algo me diz que você era uma das que punham o terror.
_ Na verdade não, eu era totalmente antipopular e tímida, eu tinha apenas uma amiga.
_ E o que mudou?
_ Apesar de tímida no último ano do colegial eu comecei a namorar, ele era do time de basquete da escola, eu comecei a me soltar um pouco, parecer um pouco com o que eu sou hoje... No final daquele mesmo ano descobri que ele não namorava só a mim.
_ Lamento por isso.
_ Sabe qual foi a justificava para a traição dele? Que eu era tímida demais.
_ E você mudou por ele?
_ Não, mudei por mim, ser tímida demais, quieta demais, aceitar tudo é penoso. Uma hora se cansa e nessa hora você só tem duas opções, ou fica louco ou muda. Primeiro eu fiquei louca, mas depois eu mudei. E essa sou eu agora. – Joseph riu.
_ É uma história e tanto para uma pessoa tão jovem.
_ Você também deve ter uma história. - esperou por uma resposta. _ Não quer conta-la.
_ Não tenho.
_ Como não? E seu tempo de adolescente rebelde? Todos nós temos.
_ Eu não tenho. Eu sempre fui o que você foi no passado.
_ Nenhum amor?
_ Não.
_Coração quebrado?
_ Não.
_ O que você fez durante esses 28 anos então? – perguntou Demi realmente curiosa.
Haviam questões de aritmética que realmente pegavam Joseph de jeito, mesmo sendo formado e sempre estar fazendo cursos de aprimoramento, alguns problemas exigiam o máximo dele para serem resolvidas. Porém, nem mesmo o pior dos problemas que ele já tinha resolvido o pegara tão desprevenido. O que você fez durante esses 28 anos? Nem mesmo ele sabia. Joseph não tinha histórias para contar, ele sempre foi o mesmo, sempre foi sozinho, sempre foi parado, nada demais acontece em sua vida.
_ Estudei? – arriscou.
_ Uau. – respondeu Demi com um pesar. O silêncio voltou a reinar, e pela primeira vez aquele silêncio incomodava a Joseph, pois ele sabia o que ele significava: ela o estava achando estranho. Tudo bem que todos sempre o acharam estranho, mas por algum motivo, ela o achar estranho o incomodava bastante. _Você é daqui? – perguntou Demi, surpreendendo Joseph. Demetria queria saber sobre ele, queria entende-lo, no fundo, quem sabe, até mesmo muda-lo?
_ Sou.
_ Sempre morou aqui, neste prédio?
_ Não, me mudei há uns dois anos.
_ Por quê?
_ Meus pais acharam que era melhor.
_ Por quê?
_ Eles acharam que isso me ajudaria a me socializar.
_ E ajudou?
_ Não. – sorriu fraco.
_ Comigo foi bem diferente, meus pais não queriam que eu viesse de jeito nenhum.
_ Você disse que seu pai te ajudou... – lembrou-a.
_ Porque ele não tinha outra opção. Apesar de que meu pai nem foi o maior problema, ele não queria, mas nunca me impediu. Já minha mãe... – Demi olhou para baixo, claramente triste. _ Ela nem se despediu de mim.
_ Lamento.
_ Ela não fez por mal. – tornou a olha-lo. _ Eu era a princesinha dela. Ela só não queria se separar.
_ Você vai ficar aqui por definitivo?
_ Até que eu publique o livro, sim. – responde. _ Eu até que gosto dos prédios, da movimentação da cidade, mas meu lugar é no interior, andar pelas viniculturas, ficar na varanda de casa, ao lado da minha família...
_ Espero que você publique rápido então. – desejou Joseph.
_ Nossa. Você quer realmente se livrar de mim. – Joseph corou.
_ Não. – respondeu apressadamente. _ Não é isso. – ele queria se consertar. Demi riu de seu desconserto.
_ Não te julgo, eu posso ser bem chata. – riu fraco. _ Mas te juro, eu fico mais suportável com o tempo.
_ É. Você... Parece até mais legal agora. – admitiu.
_ Não comemore, eu posso muito bem estragar esse momento. – Joseph não disse nada, mas Demi riu. _ Mas eu vou tentar não fazer isso. – Joseph expirou o ar que nem mesmo sabia que estava segurando.
O interfone do elevador tocou, Joseph se levantou e atendeu-o.
_ Sim, aqui é o Joseph.
_ Ah sim senhor Joseph, a manutenção chegou, já, já vocês sairão daí. – disse Brian.
_ Ótimo. Muito obrigada Brian. – agradeceu Joseph e desligou. _ Chegaram mais cedo. – observou Joseph, olhando para seu relógio de pulso que marcava 7:13.
_ Ah, que pena, queria tanto que você se atrasasse. – lamentou Demi. Ela temeu que ele a achasse chata por fazer tal brincadeira, mas, para sua surpresa, ele riu. Talvez ele não fosse tão travado assim.

Seja lá o problema que o elevador tinha, renderam bons 30 minutos para que fosse consertado.
Assim que foram liberados daquele cubículo, Joseph e Demetria se despediram com uma promessa.
_ Nos vemos mais tarde? – perguntou ela.
_ Nos vemos mais tarde. – Ele confirmou.


Para Joseph o dia seria longo, as quintas-feiras eram temerosas. Se durante a manhã ele só tinha 4 horários de aula, durante a tarde seriam longas 6 aulas, sem nenhum intervalo, uma aula após outra, era quase um contra peso a segunda-feira, que ele tinha apenas duas aulas, durante os dois últimos horário da manhã. Porém hoje não era segunda-feira, hoje é quinta-feira, seriam longas horas vendo aquelas paredes que, do chão até metade da parede, era azul, e da metade da parede até o teto, era branca. Os mesmo alunos desinteressados, com alguns poucos minis Josephs.

Apesar de tudo Joseph gostava. Dar aula era mais que um trabalho, era algo que o dava prazer.  
_ Bom dia. – cumprimentou o professor de Ed. Física ao entrar na apertada sala dos professores.
_ Bom dia. – respondeu Joseph. O professor o olhou suspeito e saiu pegando alguns papeis. Joseph estranhou sua reação a principio, mas depois ele percebeu, ele o tinha respondido. Joseph nunca respondia. Geralmente sua primeira palavra do dia era um Peguem seus livros e abram na pagina tal, quando entrava na sala de aula, nada mais, porém hoje, hoje ele já tinha falado tanto, mais do que ele costumava falar, era estranho. Muito estranho.


Aquele não era o dia de Demetria, ela custara para perceber aquilo, ainda assim no fundo ela torcia por uma mudança. Ela já estava sentada na recepção por mais de duas horas e nada de chamarem-na, ela, após tantas tentativas, havia se acostumado a esperar, mas a cada nível que ela subia menos paciência ela parecia ter, era tão difícil assim pegar a impressão de seu livro? Ela não ligava de não ter a entrevista, não se importava de não poder entregar seu livro na mão do editor, tudo o que ela queria era que eles o lessem, seria isso algo tão difícil?
Bom.
Ela só teve uma resposta após mais três horas de espera.
E no fundo ela gostaria de nunca ter recebido resposta nenhuma.  
“Perdoe-nos, mas nossa funcionaria se enganou, não poderemos receber seu livro sem uma entrevista, ligue-nos amanhã e tente marcar novamente.” – informou a secretaria com um sorriso penoso, e que deixou Demetria a beira de um ataque de nervos.

Ela chorou, chorou e chorou. Aquela era sua primeira grande chance e tinha sido desperdiçada por pura preguiça.
Mas que merda de elevador! Qual é o problema da escada em Demetria? Que merda de prédio! Que merda de funcionaria! Que merda de editor! Que merda de tempo! Mas que merda! Que grande bola de merda!
Demi sabia que tinha que ir encontrar sua amiga de infância assim que saísse da editora, mas ela claramente esperava por boas novas, coisa que Demetria não teria. Então ela decidiu apenas que vagaria pela cidade sem um rumo certo, não avisaria a ninguém, apenas pendularia por aí, se ela se perdesse... Bom, ela não estava se importando com isso nesse momento. Ela só precisava sair andar e tentar parar de chorar.


Joseph jogou-se em seu sofá sentindo todo o seu corpo doer ao relaxar-se, o último horário de aula havia sido muito estressante, a turma estava descontrolada, mal conseguiu dar a matéria, logo a época de prova chegaria e ele teria que escutar reclamações de pais furiosos dizendo que ele não passou a matéria e ela foi cobrada. Há algo pior que pais que preferem defender o filho encrenqueiro a escutar o professor? 
Ele suspirou.
Fechou os olhos, ele não dormiria, mas ajudaria a relaxar mais, talvez um chá fosse bem vindo, uma bela xicara de chá de camomila.
Joseph se levantou e foi até a cozinha, botou uma água para ferver, e quando ia pegar o pacotinho com chá, alguém bate em sua porta.
Se a sua resposta de Bom dia ao professor de Educação física tinha sido estranha, imagina alguém batendo em sua porta? Ninguém batia a sua porta, a não ser seus pais, duas vezes por ano: em seu aniversário e no dia de ação de graças.

_ Ei. –sorriu fraco. _ Trouxe esses biscoitos, como pedido de desculpas por ter sido tão chata hoje de manhã. – Joseph deixou-a entrar.
_ Você não foi tão chata assim. – defendeu-a.
_ Nossa, pensei que você morasse sozinho. – falou ela, entregando-o os biscoitos que pareciam ser caseiros.
_ Eu moro.
_ Sua empregada deve ser muito boa. – comentou, seguindo-o até a cozinha.
_ Não tenho empregada. – respondeu e olhou-a esperando sua reação. Demi não escondeu sua surpresa, como um homem conseguia deixar um apartamento tão limpo e organizado assim? Não são eles os desorganizados? Demi nunca conseguiria manter um apartamento assim, sendo que esse era o esperado para ela.
_ Você é o cara mais... Intrigante que já conheci.
_ Alguns me acham estranho.
_ Também. – riu.
_ Vou fazer chá, quer?
_ Ah, não, obrigada, eu já estou indo, só vim entregar os biscoitos mesmo, foi minha mãe que fez.
_ Pensei que ela não queria que você viesse.
_ Ela não queria, mas ainda assim mandou comida caseira par quase dois meses. – sorriu. _ Ela sabe que eu sou péssima na cozinha e ela jamais permitiria que eu sobrevivesse a base de Fast-food.
_ Mães... – Joseph riu.
_É. – Demi riu também.
_ E como foi na editora? – Demi hesitou triste. Suspirou.
_ No fim das contas a funcionaria me passou informação errada. – respondeu. Joseph parou de abrir o pacote, sem reação.
_ Me desculpe.
_ Não é sua culpa.
_ Claro que é. Seu eu não tivesse insistido você não teria ido.
_ Ainda assim não foi sua culpa. Você só queria me ajudar. – sorriu. _ Bom, eu já vou indo, espero que goste dos biscoitos.
Joseph a acompanhou até a porta, mas ao fecha-la ele não retornou a cozinha, ele continuou lá, com seu coração partido por aquela garota, não era justo brincar com seu sonho daquela maneira.
Meio que por impulso, pela primeira vez em toda sua vida Joseph tomou partido, abriu sua porta, foi até a porta de Demi e bateu duas vezes, só quando ele escutou o barulho do trinco abrindo que ele percebeu a loucura que estava fazendo.
_ Ei. – ela riu ao ver sua expressão de perdido. _ Quer alguma coisa? – Joseph respirou fundo tomando coragem.
_ Sabe, Joe parece legal. – sorriu. Aquela não era qualquer frase, aquela era o começo de uma grande mudança. De uma grande história, de um grande problema.

CONTINUA

Primeiro capítulo postado, eu espero que tenham gostado.
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Bjssss